terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O Deus da Fé (E.15)


Ó Tu que não tens nome
e és impalpável como uma sombra
e sólido como uma rocha!
Nunca serás experimentalmente captado
nem intelectualmente dominado,
porque és o Deus da Fé.

Não és uma coisa misteriosa mas o Mistério;
Aquele que não pode ser entendido analiticamente;
Aquele que não será reduzido
a abstrações nem categorias;
Aquele a Quem os raciocínios nunca alcançarão;
Aquele que é para ser acolhido,
assumido e vivido;
Aquele a Quem se «entende» de joelhos,
na fé, entregando-se. És o Deus da Fé.

As palavras mais excelsas da linguagem humana
não serão capazes de encerrar nas suas fronteiras
nem um pouco da Tua substância, nem poderão
abarcar a amplitude, imensidão e profundidade
da Tua realidade.
Superas, abarcas, transcendes e compreendes todo
o nome e toda a palavra. És realmente o Sem-Nome,
verdadeiramente o Inominado.
És o Deus da Fé.

Só na noite profunda da Fé,
quando a mente e a voz se calam,
no silêncio total e na presença total,
dobrados os joelhos e aberto o coração,
só então aparece a certeza da fé,
a noite transforma-se em meio-dia
e começa-se a entender o Ininteligível.
Entretanto vamos vislumbrando a Tua figura
entre penumbras, pegadas, vestígios,
analogias e comparações.
Mas, cara a cara, não é possível olhar-Te.
És o Deus da Fé.

A nossa alma deseja ardentemente agarrar-se,
aderir a Ti. Queremos possuir-Te, apegar-nos a Ti
e descansar. Porém, quantas vezes, ao chegarmos
ao Teu umbral, Tu Te desvaneces como um sonho,
e Te transformas em ausência e silêncio.
Definitivamente, Tu és o Deus da Fé.

Como exilados, somos arrastados em direcção a Ti
por uma obscura e premente saudade, uma estranha
saudade, de Alguém que nunca abraçámos e de
uma Pátria em que nunca vivemos.
Dás-nos o aperitivo e deixas-nos sem banquete.
Deste-nos as primícias, mas não as delícias do Reino.
Dás-nos a sombra, mas não o Teu Rosto, e deixas-nos
como um arco tenso. Onde estás?

Peregrinos do Absoluto e exploradores de um Infinito
que nunca «encontraremos»; por não Te «encontrar»,
o nosso destino é andar sempre atrás de Ti, como
eternos caminhantes, numa odisseia que só findará
nas praias definitivas da Pátria, quando caducarem
a Fé e a Esperança, e só fique o Amor.
Então sim, contemplar-Te-emos face a face.

Meu Deus, se eu sou um eco da Tua voz, como é
que o eco continua a soar enquanto a voz permanece
em silêncio?
Se eu sou a sede e Tu a Água Imortal, quando acabarás
de saciar esta sede?
Se eu sou o rio e Tu o mar,
quando vou repousar em Ti?
Aclamo-Te e reclamo-Te,
afirmo-Te e confirmo-Te,
exijo-Te e necessito de Ti,
aspiro por Ti e desejo-Te.

Onde estás, Senhor?
Ó Tu, que não tens nome nem figura,
na escuridão da noite dobro os meus joelhos,
entrego-me a Ti, creio em Ti.
Ámen.

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