terça-feira, 3 de março de 2015

Sofrimento e Redenção (E.17)

Senhor, Senhor, que significa ser homem? Sofrer a mãos cheias.
Desde o choro do recém-nascido até ao último gemido do agonizante,
sofrer é o pão quotidiano e amargo que nunca falta na mesa familiar.

Meu Deus, para que serve essa criatura desventurada, a dor? É um despojo inútil.
Sem nome, mas com mil procedências e mil rostos, quem poderá iludi-la?
Caminha ao nosso lado na senda que vai da luz às trevas. Que podemos fazer com ela?

É algo que brotou do solo humano como um fungo maldito, sem que ninguém a tivesse semeado nem desejado. Que faremos com ela?
Lembro-me da Tua Cruz, ó Pobre de Deus, Jesus de Nazaré; aquela cruz que Tu não escolheste mas assumiste, não com alegria, mas com paz. Para que serve essa corrente caudalosa e sangrenta da dor humana? Essa é a questão: que fazer com esse mistério essencial e abrasador?

As mil enfermidades, as mil e uma incompreensões, as lutas interiores, as depressões e obsessões, rancores e invejas, saudades e tristezas, as limitações e impotências, próprias e alheias, penas, cravos, espinhos, suplícios... Que fazer com esse bosque infinito de folhas mortas?

Ó Justo Servo, obediente e submisso ao Pai; chegada a Tua hora, depois de abalado pelo medo e pelo assombro, entregaste-Te sereno e aceitaste livremente o cálice da dor até consumir os seus últimos e mais amargos restos.

As consequências da conspiração humana não caíram cegas e fatais sobre Ti, porque Tu as assumiste voluntariamente, pois sabias que se elas aconteciam, não era pela maquinação humana, mas porque o Pai as permitia. E com amor carregaste a cruz.

Obrigado pela lição, Cristo amigo. A partir de agora temos a resposta para a interrogação básica do homem: que fazer da dor? Não se vence o sofrimento lamentando-o. E, ao assumir com amor a cruz, estamos não só a acompanhar-Te, Jesus de Nazaré, na subida ao Calvário, mas a colaborar conTigo na redenção do mundo; mais ainda, «estamos a completar o que falta à Paixão do Senhor».

A perfeita liberdade está, pois, não só em aceitar a cruz com amor, mas em agradecê-la, sabendo que, assim, assumimos solidariamente a dor humana e colaboramos na tarefa transcendental da redenção da Humanidade.

Obrigado, Senhor Jesus Cristo, pela sabedoria da cruz.


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