quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Consolação na Angústia (E.10)


Senhor, Senhor, já não posso mais.
Venho de uma longa noite.
Estou a sair das águas profundas. Tem piedade.
A solidão é uma alta muralha.
Que me tapa todos os horizontes.
Levanto os olhos e nada vejo.

Os meus irmãos voltaram-me as costas
e afastaram-se. Todos me abandonaram.
A minha companhia é a solidão;
o meu alimento, a angústia.
Nem rosas há. Tudo é luto.
Onde estás, meu Pai?
Uma agonia cruel, assentou, gelada,
no mais profundo de mim.

Pai dá-me a mão; aperta a minha;
liberta-me desta negra prisão.
Por favor, não me feches a porta, pois sinto-me só.
Porque Te calas? Os meus brados encheram a noite,
mas Tu permaneces surdo e mudo.
Desperta, meu Pai.
Dá-me um sinal, um só, de que vives, de que me amas,
de que estás agora e aqui comigo.
Olha que o medo e a noite
rondam-me como feras,
e só me restas Tu, como única defesa e baluarte.

Mas eu sei que a aurora voltará,
e de novo me consolarás,
como uma mãe mima o seu filhinho.
A harmonia encherá os horizontes,
e rios de doçura correrão nas minhas veias.

Os meus irmãos vão regressar,
e haverá de novo espigas e brilharão as estrelas;
a atmosfera encher-se-á de alegria,
e a noite de canções
e a minha alma cantará eternamente
a Tua misericórdia, porque me consolaste.
Obrigado, meu Pai. Ámen.

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