terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Pai (E.2)


Como Te hei-de chamar, a Ti que não tens nome!
Aquele que saiu dos abismos da Tua solidão,
o Teu Enviado, Jesus, disse-nos
que és e Te chamas PAI.
Foi uma grande notícia.

Na quieta tarde da Eternidade,
eras Tu vida e fogo em expansão
e eu já vivia em Ti, na Tua mente.
Acariciavas-me como sonho dourado
e trazias o meu nome gravado
na palma da Tua mão direita.
Embora o não merecesse,
já me amavas sem ter porquê,
amavas-me como se ama um filho único.
Da noite da minha solidão,
ergo os braços para Ti e clamo: ó Amor,
Pai Santo, mar inesgotável de ternura,
cobre-me com a Tua Presença que sinto frio
e, por vezes, tudo me amedronta.
Diz-se que onde há amor, não há temor.
Porque me arrastam, então,
estes negros corcéis
até mundos desconhecidos de ansiedade,
medos e receios?
Pai querido tem piedade e dá-me o dom da paz,
a paz de um entardecer...

Sei que és a Presença amante,
o Amor envolvente, bosque de braços sem fim.
Sei que és perdão e compreensão,
segurança e certeza, alegria e liberdade.
Se saio à rua acompanhas-me;
se mergulho no trabalho, ficas a meu lado;
na agonia e para além dela,
dizes-me: aqui estou, irei contigo.

Ainda que tentasse fugir do Teu cerco de amor,
ainda que escalasse montanhas
ou voasse até às estrelas com asas feitas de luz,
seria inútil!...
Num cerco iniludível, Tu me envolves,
inundas, transfiguras.

Dizem-me que Teus pés
calcorrearam mundos e séculos
em busca da minha sombra fugidia.
Dizem-me que, quando me encontraste,
o Céu explodiu em canções...
Com tão maravilhosa notícia
fizeste de mim um filho prodigiosamente livre.
Obrigado, Pai, obrigado...

Agora, derruba os velhos castelos
e as altas muralhas do meu egoísmo,
até que não reste, em mim,
qualquer poeira de mim mesmo,
e assim me transforme em transparência de Ti,
para os meus irmãos.

Então ao passar pelos mundos da desolação,
também eu serei ternura e acolhimento,
alumiarei as noites aos peregrinos,
direi aos órfãos: «Sou tua Mãe»,
darei sombra aos extenuados,
pátria aos fugitivos
e, os que não têm lar,
abrigar-se-ão sob o beiral do meu telhado.
Tu és o meu Lar e a minha Pátria.
Em Ti quero repousar, no final do combate.
E Tu velarás para sempre o meu sono,
ó Pai eternamente amante e amado. Ámen.

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